Nas últimas décadas têm-se assistido a um fenómeno ascendente de consumo e preferência pelos produtos biológicos. Não só derivado das qualidades organolépticas dos produtos mas, também, do modo de produção de sistemas agrícolas sustentáveis que minimizem o impacto da produção alimentar no ambiente, inibindo-os da presença de químicos prejudiciais e responsáveis pelas muitas doenças que o mundo tem vindo a desenvolver – “pela boca morre o peixe”.
Na minha primeira aula de introdução à Agricultura Biológica, leccionada pela Engenheira Elsa Cannavaro, a turma foi questionada pela docente se era ou não possível a Agricultura Biológica sustentar o mundo?
Na altura ainda muito “verde” no assunto, respondi que seria quase impossível, visto que existem inúmeros factores que dificultam este modo de produção comparativamente com o modo convencional, tais como, mão-de-obra, controlo de pragas e doenças, relação produtividade/preço, escoamento do produto, escala agrícola, etc, etc.
Hoje em dia a minha resposta e maneira de ver as coisas são completamente diferente!
A Agricultura Biológica cresceu e tem vindo a desenvolver estratégias eficazes e capazes de enfrentar as problemáticas atrás referidas. A inovação da tecnologia, a evolução em conhecimento dos factores de produção já permite hoje em dia produzir biologicamente numa escala considerável, de modo a competir com a Agricultura Convencional.
Nunca através da relação preço/quantidade mas, sim, através da relação preço/qualidade/sustentabilidade, factor mais importante para um consumidor biológico.
O associativismo entre produtores, o desenvolvimento rural, a criação de emprego, a protecção da paisagem, são tudo razões para elevar o modo de produção biológico como prioritário no desenvolvimento sustentável económico e ambiental. Ganha a economia e ganham as pessoas.
Se num concelho forem desenvolvidas políticas e planos de acção com o intuito de promover este modo de produção, valorizamos o que é nosso e melhoramos a economia interna, tornando-nos mais competitivos com as grandes superfícies comerciais. É óbvio que o prioritário não passa apenas pelas políticas aplicadas mas, também, pela mudança de mentalidades do consumidor.
De acordo com dados fornecidos pelo Governo a superfície cultivada em agricultura biológica no nosso País tem vindo a crescer de forma sustentada, representando atualmente 239 864 hectares e 7% da Superfície Agrícola Utilizada (SAL) do continente, sendo na Beira Interior (minifúndio) e no Alentejo (latifúndio) que se localizam cerca de 82% daquela superfície, destinada maioritariamente a pastagens e forragens para alimentar o efetivo pecuário.
Apenas 20% é destinada à produção de bens alimentares dirigidos ao consumo alimentar direto ou para transformação. Os produtores pecuários biológicos produzem maioritariamente bovinos e ovinos.
Numa zona de minifúndio como é a Beira Alta, torna-se imprescindível apostar neste tipo de tecido empresarial. Apesar de se produzir em pequena escala, conseguimos o que os países com extensas áreas cultivadas e mecanizadas de hortícolas ou frutícolas não conseguem, valorizar o nosso produto em mercados locais através da frescura e qualidade do mesmo. Se este tipo de medidas fosse sendo aplicado nas províncias portuguesas conseguiríamos produzir e vender internamente e ainda exportar.
Numa época em que o desemprego jovem vem aumentando e, também, consequente desinteresse por ciências como a Agricultura ou Florestas. Numa altura de alternativas e apoios como o PRODER, numa escala europeia, a ADIBER, numa escala mais regional. É crucial, a meu ver, mentalizar os jovens de que há alternativas de sucesso ao desemprego e às suas próprias carreiras.
A ser continuado…
Gonçalo Barreto – ESAC